O contexto pandémico e de emergência global, no âmbito do qual eclodiu uma das maiores crises sanitária e económica que alguma vez vivemos, tornou premente o desenvolvimento de uma vacina eficaz e capaz de contribuir para a diminuição significativa da carga viral, que se torna particularmente preocupante quando pensamos nos grupos de risco, nos quais se integram pessoas idosas e pessoas diagnosticadas com doenças crónicas, cardíacas, oncológicas, renais, entre outras.
No passado dia 26 de Novembro de 2020 foi criada a task force para a definição do Plano de Vacinação da Covid-19 em Portugal, que apresentou uma versão inicial do mesmo no passado dia 3 de Dezembro de 2020. Nesta versão, foram apresentados os grupos prioritários para cada uma das três fases de vacinação, sendo que não é clara a inclusão de pessoas com ELA na primeira fase de vacinação. Acresce ainda um outro factor que se prende com o critério de idade, que prioriza a vacinação de pessoas com insuficiência renal, insuficiência cardíaca, DPOC ou doença coronária com 50 ou mais anos (primeira fase) ou de pessoas com diabetes, neoplasia maligna ativa, doença renal crónica, insuficiência hepática, obesidade, hipertensão arterial entre os 50 e os 64 anos (segunda fase), deixando de fora as pessoas com idade inferior à indicada, independentemente da gravidade ou do estadio da doença na qual se encontram.
A APELA já contactou as autoridades de saúde e a task force portuguesa, ocasião pela qual apresentou a sua apreensão relativamente à necessidade de se proceder à vacinação de pessoas com ELA, independentemente da sua idade, na primeira fase do plano.
Embora saibamos que estão a ser desenvolvidos todos os esforços para salvaguardar o acesso universal, gratuito e equitativo à vacinação a todas e a todos os portugueses, nomeadamente aos que mais necessitam pelos riscos que representam para terceiros ou pelas comorbilidades que possam ter, importará compreender, de acordo com as circunstâncias, em que medida é que o mesmo plano poderá ser reavaliado e reajustado sobretudo no que diz respeito à priorização dos grupos de risco. A APELA mantém-se atenta à evolução e implementação da atual estratégia de vacinação e empenhada em lutar para que, pelo menos, os grupos de risco possam ser vacinados independentemente daquela que é a sua idade.
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No seguimento deste assunto, partilhamos o parecer do Professor Mamede de Carvalho, Presidente do Conselho Científico da APELA, sobre a Vacinação contra a Covid-19, no caso de pessoas com ELA:
“A vacinação contra o vírus SARS-Cov-2 é uma imperiosidade civilizacional para combater a COVID-19 e as suas graves implicações na sociedade.
A definição dos grupos prioritários e o seu escalonamento é uma decisão dos Governos, tendo em linha de conta o número limitado de vacinas na fase actual.
Certamente os doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) devem constituir uma prioridade, em particular os mais velhos e aqueles que apresentam compromisso respiratório.
No entanto, o enquadramento desta doença, como inúmeras outras doenças com compromisso respiratório, e de outras com compromisso imunológico, é um assunto complexo a ser tomado em conta pelos especialistas de Saúde Pública”.
Mamede de Carvalho
Presidente do Conselho Científico da APELA
Neurologista e Neurofisiologista (CHLN-HSM)
Group Leader (IMM)
Professor de Fisiologia (FMUL)
Responsável pelo Instituto de Fisiologia (FMUL)
Fotografias
