A atrofia muscular espinhal é uma doença específica do neurónio motor condicionada, em 95% dos casos, por um defeito genético do gene SMN 1 ("Survival Motor Neuron 1"). Este defeito causa a produção anormal de uma proteína com o mesmo nome, essencial para a sobrevivência dos neurónios motores. Por isso, os indivíduos afectados, sobretudo crianças, manifestam progressiva falta de força muscular, em particular nos membros inferiores e superiores.
A avaliação clínica e electromiográfica (para neurologistas experientes) é diferente do presente na Esclerose Lateral Amiotrófica. Há formas muito severas (como o tipo I e II, a primeira dita de Wernig-Hoffmann) e outra de curso mais lento (tipo III, de Kugelber-Wellander), para além de forma extremas como o tipo 0 (in utero) e tipo IV, do adulto. Tal variação depende da expressão de um outro gene, denominado SMN 2 ("Survival Motor Neuron 2"), homólogo, que produz uma proteína incompleta, disfuncional, mas passiva de compensar parcialmente o defeito clínico.
Por se tratar de uma doença com conhecida causa genética, dois tratamentos foram recentemente desenvolvidos: um pela Biogen Idec and Isis Pharmaceuticals de aplicação intratecal (ou seja, por punção lombar), que visa aumentar a expressão de proteína funcionante produzida pelo gene SMN2, pela acção de um oligonucleotideo “antisense” (SPINRAZA® -NUSINERSEN); outro desenvolvido pela Novartis (ZOLGENSMA® -onasemnogene abeparvovec-xioi) que consiste na infusão intravenosa de um vector (adenovírus) portador do gene deficitário para que seja incorporado no DNA do neurónio motor medular e assim possa produzir a proteína deficitária.
Nenhuma destas intervenções têm indicação em outras doenças neuromusculares, de diversa natureza, como a Esclerose Lateral Amiotrófica, pois não estão associadas à disfunção deste gene. De resto, o eventual impacto destes genes na Esclerose Lateral Amiotrófica já foi tema estudado intensamente há cerca de 15-20 anos, em particular por grupos Franceses e Holandeses, sem ter havido resultados consistentes naquele sentido.
Nota informativa emitida pelo Professor Doutor Mamede de Carvalho, Presidente do Conselho Cienhtífico da APELA, Neurologista no CHLN-HSM e Investigador no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.