O canábis é uma planta originária da Ásia Central, cultivada legal ou ilegalmente em muito países, contendo mais de 480 compostos químicos e mais de 80 canabinóides, sendo o canabidiol e o delta-9-tetrahidrocanabinol os mais abundantes. Este último composto tem sido preferido no mercado ilegal pela sua ação psicoativa. Há dois delta-9-tetrahidrocanabinois sintéticos no mercado em alguns países, a nabilona e o dronabinol, utilizados para os vómitos associados à quimioterapia e à anorexia de situações oncológicas.
Em Portugal, encontra-se autorizado o medicamento Sativex®, cuja composição inclui dois extratos de canábis (canabidiol e o delta-9-tetrahidrocanabinol), estando indicado para o tratamento sintomático da espasticidade na Esclerose Múltipla. O conjunto destes extratos é também referido nalguns artigos científicos como “Nabiximol”. O medicamento apresenta-se sob a forma de solução para pulverização bucal, sendo que cada pulverização (aproximadamente 100 microlitros) contém 2,7 mg de Δ9-THC e 2,5 mg de CBD. Todos estes medicamentos podem provocar efeitos adversos, designadamente tonturas e sonolência. Podem ocorrer alucinações, confusão mental, paranoia, hipotensão arterial, depressão, sedação, estados de euforia e disforia. Estes efeitos dependem em geral da dose administrada, sendo reversíveis com a descontinuação da terapêutica, mas esta pode determinar um quadro de abstinência.
Este medicamento não está aprovado para a Esclerose Lateral Amiotrófica. Um único ensaio utilizando delta-9-tetrahidrocanabinol para tratamento sintomático na Esclerose Lateral Amiotrófica foi negativo (Weber M, Goldman B, Truniger S. Tetrahydrocannabinol (THC) for cramps in amyotrophic lateral sclerosis: a randomised, double-blind crossover trial. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry. 2010 Oct 1;81(10):1135-40).
Os doentes com ELA devem ter cuidado na toma de canabinóides. Em particular, atenção especial deve ser dada à compra deste produtos por vias paralelas, devido ao elevado risco de contaminantes tóxicos.
Professor Doutor Mamede de Carvalho,
Neurologista no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte
Lisboa, 29 de Julho de 2019
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