"É importante não restringir, nem confundir, CP com cuidados de fim de vida, pois sendo consensual que integram esta vertente da vida dos doentes vão muito para além dela. Tem sido demonstrado que os CP introduzidos numa fase mais precoce, a par dos tratamentos dirigidos à cura, melhoram a qualidade de vida e aumentam a sobrevida dos doentes". Dra. Elga Freire, Especialista em Medicina Interna (CHP) 

Nos dias 7 e 8 de Julho decorreu nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto, a Festa da Saúde: um evento organizado pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) com o intuito de dar a conhecer os Cuidados Paliativos à população do Porto, nomeadamente por intermédio do Núcleo de Estudos de Medicina Paliativa (NEMPal) da SPMI. A APELA esteve presente.

No processo de divulgação, colaboraram médicos e internos de Medicina Interna, enfermeiros, assistentes sociais e psicóloga, a trabalharem em equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos.
Também participaram no stand do NEMPal, profissionais da Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica (APELA) e da Associação Portuguesa de Neuromusculares (APN). Para além dos esclarecimentos à população em geral, sobre as doenças e os serviços que prestam, foi também um momento de partilha entre as associações e entre estas e os profissionais de Medicina Interna e de Cuidados Paliativos (CP) presentes no evento.

De acordo com a Dra. Elga Freire, "É consensual, por parte dos especialistas que tratam pessoas com ELA e os de Cuidados Paliativos a recomendação de uma abordagem paliativa desde o diagnóstico, com o objetivo de controlar os sintomas e preservar a qualidade de vida".

Sobre alguns dos temas destacados na Festa da Saúde e algumas das preocupações que circundam a abordagem aos CP, a Dra. Elga Freire esclarece:

"É importante não restringir, nem confundir, CP com cuidados de fim de vida, pois sendo consensual que integram esta vertente da vida dos doentes vão muito para além dela. Tem sido demonstrado que os CP introduzidos numa fase mais precoce, a par dos tratamentos dirigidos à cura, melhoram a qualidade de vida e aumentam a sobrevida dos doentes.
Os múltiplos problemas dos doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) requerem uma abordagem multidisciplinar incluindo um controlo intensivo dos sintomas como: reabilitação para manter a função motora, ajuda na deslocação, suporte nutricional e respiratório, aparelhos de comunicação, suporte psicológico, social, financeiro e espiritual para os doentes e familiares.
O Plano Individual e Integrado de Cuidados (PIIC) é um processo centrado no doente que reflete as suas preferências e projeta no futuro (curto ou longo prazo) as necessidades antecipadas, acauteladas e supridas por uma equipa interdisciplinar. O tratamento e o suporte implementados são reavaliados regularmente e ajustados à mudança do estado do doente e da família.
Estudos provam que o PIIC aumenta a satisfação e diminui o stress emocional dos doentes, familiares e profissionais. O PIIC, como estratégia abrangente, integra o que são os pilares dos CP, no que respeita a definição de tratamentos e controlo de sintomas, a apoio e envolvimento da família, trabalho da espiritualidade e estabelecimento do plano em equipa interdisciplinar.

Os CP em Portugal ainda não são universais. Contudo, tem havido um enorme esforço para a sua implementação, não só a nível hospitalar mas também no domicilio. A necessidade de CP é ainda maior nas doenças não oncológicas como as insuficiências de órgão ou as doenças neurodegenerativas como a ELA.

O seu desenvolvimento implica, sobretudo, a formação e treino em CP de todos os profissionais de saúde e a criação de estruturas em número suficiente para poder responder às reais necessidades da população portuguesa.
É urgente haver um maior empenhamento das políticas de saúde e sociais para que se implementem as várias estruturas já definidas, nomeadamente os cuidados paliativos domiciliários".

Elga Freire é especialista em Medicina Interna, no Centro Hospitalar de Santo António, no Porto.